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Qigong

Qigong é um termo chinês constituído por “Qi”, que significa “energia ou força vital” e “Gong” “treino, trabalho ou habilidade”. Assim sendo, uma possível tradução do termo “Qigong” será “método de treino para aumentar a energia vital”.

Qigong é a arte de desenvolver a energia vital, com o objetivo de estimular e reforçar o fluxo natural de energia do corpo humano, de forma a beneficiar a saúde, a vitalidade, a mente e o espírito. É a habilidade que permite cultivar a mente e o corpo através de exercícios, que integram  harmoniosamente três aspectos fundamentais: corpo, mente e respiração.

A  arte de desenvolver a energia vital tem sido praticada por diferentes culturas e possivelmente o Qigong terá surgido há mais de 5000 anos, como meio natural para preservar a saúde e curar enfermidades. Em 1975, na província de Qinghai, foi descoberto um pote esculpido e pintado com uma forma humana, numa postura de meditação executando um exercício de recepção de Qi. Esta relíquia do período Majiayao é uma evidência arqueológica de que o Qigong tem mais de 5 mil anos de história.

Esta arte evoluiu ao longo dos anos, tendo-se desenvolvido diferentes formas de Qigong. É impossível nomear as várias Escolas, contudo podemos classificá-las quanto à sua natureza e propósito.

  1. O Qigong Medicinal ou Terapêutico foi o primeiro a ser praticado e faz parte da Medicina Tradicional Chinesa, sendo usado para fins terapêuticos.
  2. O Qigong Religioso tem influências budistas e taoistas, sendo utilizado para alcançar a iluminação espiritual.
  3. O Qigong para Artes Marciais é usado para alcançar um ótimo estado de vitalidade e vigor que favorece no combate e na autodefesa.
  4. O Qigong Académico é composto por um conjunto de exercícios usados para manutenção geral da saúde.

Qigong Medicinal ou Terapêutico

A primeira referência ao Qigong Medicinal surge no livro “Huang Ti Nei Ching Su Wen” ou “O Clássico de Medicina Interna do Imperador Amarelo”. Acredita-se que tenha sido escrito durante o reinado do Imperador Huang Ti, entre os anos 2697 A.C. e 2596 A.C..

O Livro “Essential Golden Prescriptions for Emergencies”, de Sun Simiao, apresenta uma visão da terapia de Qigong como forma de regular o Qi, baseado em meditação, massagem e exercícios dinâmicos. Sun Simiao nasceu no séc. VI, sendo considerado um dos mais famosos praticantes da medicina chinesa, o qual enfatizava a preservação da energia e a nutrição do corpo como forma de longevidade. Segundo os registos Sun Simiao terá vivido até aos 102 anos.

O Qigong Medicinal foi criado para melhorar a vitalidade e a saúde, sendo uma forma de influenciar e dirigir o “Qi” para benefícios terapêuticos do próprio praticante ou de terceiros. Para isso, utiliza-se o movimento, a respiração, o som e a visualização.

Esta arte é considerada um ramo da Medicina Tradicional Chinesa e é praticada com base no “Qi” que flui pelos meridianos e órgãos internos, no Yin e Yang, nos cinco elementos, no sangue e fluidos corporais, no Jing (Essência), no Shen (Espírito) e no “Qi” externo. Possui ainda influências Taoistas e Budistas.

O Qigong medicinal pode ser usado isoladamente, ou como um complemento da acupunctura. Podem ser prescritos determinados exercícios ao paciente, adaptados ao seu quadro clínico, ou pode ser efectuado um tratamento que mobiliza, energiza e desbloqueia o fluxo de “Qi”, que por sua vez, aumenta os benefícios terapêuticos da acupunctura.

Alguns textos mais tradicionais aconselham os acupunctores a praticarem exercícios de Qigong como forma de aumentar a sua vitalidade.

Investigação Científica

O Qigong tem-se tornado mais popular. Hoje em dia podemos encontrar um número cada vez maior de estudos científicos que comprovam a sua eficácia.

Num estudo randomizado e controlado com 162 elementos (1), financiado pela Universidade de Sydney – Austrália, avaliou-se o uso do Qigong Medicinal em comparação com os cuidados habituais para melhorar a qualidade de vida de pacientes com cancro. Demonstrou-se que o grupo de Qigong Medicinal melhorou significativamente a qualidade de vida geral, a fadiga, a perturbação de humor e a inflamação, em comparação com o grupo dos cuidados habituais.

Outro estudo de longo acompanhamento durante 30 anos (2), com 242 pacientes hipertensos divididos em grupo de Qigong (n=122) e em grupo de controlo (n=120), onde todos receberam terapia medicamentosa para controlar a hipertensão, mas somente o grupo de Qigong praticava 30 minutos de exercícios de Qigong duas vezes ao dia. O mesmo demonstrou que a mortalidade acumulada foi 25,41% no grupo de Qigong e 40,79% no grupo de controlo. A incidência de acidente vascular cerebral (AVC) foi de 20,49% e 40,73%, e taxa de mortalidade por AVC foi 15,57% e 32,50%, respectivamente. Estes resultados indicam que o Qigong tem potencial para prevenir acidentes vasculares cerebrais e prolongar a vida. Os pesquisadores relataram ainda que, num período de 20 anos, a pressão arterial do grupo de Qigong estabilizou, enquanto a do grupo de controlo aumentou. Notavelmente, durante este período, a dosagem da medicação para o grupo Qigong pode ser diminuída e para 30% dos pacientes poderia ser eliminada. Por outro lado, a dosagem do medicamento para o grupo de controlo teve de ser aumentada. Estes resultados sugerem que a pratica de Qigong ativa o processo de cura natural do corpo.

Outras investigações demonstram ainda que a prática regular de Qigong melhora a função cardíaca e a microcirculação, aumenta a densidade óssea, controla a depressão e a ansiedade, restabelece os níveis de hormonas femininas que se deterioram com o processo de envelhecimento e restaura as funções normais do corpo em pessoas com doenças crónicas.

As suas aplicações médicas vão desde a hipertensão, doenças cardiovasculares, envelhecimento, osteoporose, asma, depressão, ansiedade, até ao complemento na oncologia.

Concluímos, dos vários estudos, que o exercício de Qigong estimula o processo de auto-cura do corpo, podendo ser considerado uma terapia natural de anti-envelhecimento. Pode ainda complementar a medicina ocidental  proporcionando melhores cuidados de saúde, sendo uma mais valia tanto no tratamento de patologias crónicas,  como na terapia preventiva.

Notas:

(1)- B. Oh, P. Butow, B. Mullan, S. Clarke, P. Beale, N. Pavlakis, E. Kothe, L. Lam, D. Rosenthal, Impact of Medical Qigong on quality of life, fatigue, mood and inflammation in cancer patients: a randomized controlled trial. Oxford Journals, Annals of Oncology 2010 March; 21(3): 608–614. Published online 2009 October 30. doi: 10.1093/annonc/mdp479, PMCID: PMC2826100.

(2)- Wang Chongxing, et aL Effects of qigong on preventing stroke and alleviating the multiple cerebro-cardiovascular risk factors a follow-up report on 242 hypertensive cases over 30 years. Proceedings, Second World Conference for Academic Exchange of Medical Qigong, Beijing, China. 1993: 123-124.

Referências bibliografia:

  • Tianjun Liu. Chinese Medical Qigong. London: Singing Dragon, 2013
  • Li Shizhen. Study on the Eight Extra Meridians. Beijing: China Press Traditional Chinese Medicine, 2007
  • Yellow Emperor’s Internal Classic. Beijing: People’s Medical Publishing House, 1963.
  • Sun Simiao. Essential Golden Prescriptions for Emergencies. Beijing: People’s Medical Publishing House, 1955.
  • Primary Shamatha and Vipasyana. In Liu Tianjun. Guide of Chinese Buddhist Qigong Classic. Beijing: People’s Medical Publishing House, 1993.
  • Awakening to the Truth. In Fang Chunyang. Great Integration of Chinese Qigong. Changchun: Jilin Scientific and Technical Publishers, 1989.

 

Diogo Amorim

Diretor Clínico do Instituto de Medicina Integrativa

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